Mar 31, 2008
Mar 29, 2008
Mar 28, 2008
Mar 24, 2008
relax
hj vi na tv, enquanto esperava ser atendida numa fila bloqueada, um programa sobre a 2nd life, e as pessoas q achavam injusto não poder ser sempre assim
confesso q fiquei neurótica, pensando nesse mundo virtual cada dia a crescer mais e mais e mais, q até o vaticano já lá abriu sucursal (não me perguntem se é em latim)
a ficção científica está a tomar proporções reais (desde há décadas, há quem diga), mas é tão estranho imaginar milhares de pessoas a viver dentro de um mundo imaginado, empregando toda a sua energia nesse universo paralelo...
creepy!
respiremos fundo
Mar 22, 2008
CCB, Dia Mundial da Poesia
poetas
a ver
a ler
a copiar letras
a encontrar sinais
a cortar palavras
a contar sílabas
a colar imagens
a dizer versos
desenhando setas
hoje no CCB celebrou-se a poesia. vêem aqui a minha sala ainda sem pessoas, que houve momentos de enchente desafiadora. propunha eu tb desafios vários, do livro de recortes poéticos ao frasário, ou caixinhas de poemas invisíveis, secretos... já tenho ideias melhoradas para a próxima.
Mar 21, 2008
Mar 20, 2008
paulo pedra
pondo os poemas para fora da gaveta. este foi já em parte (cortes sugeridos pelo editor e aceites pela escrevente, embora... - comparem-se versões) publicado na "DiVersos", nº 1o, Outono 2006
paulo pedra
1.
Assalta-me a dor
cobre-me o luto
de ti
enquanto sais
a água embotando a alta transparência vidrada da galeria.
recusa seguir-te o rosto descomposto,
dobrado pelo espanto.
na mesa os restos, mancha de chá em círculo,
a taluda que compraste (generoso) para raspar,
não tendo coincidido as figuras da sorte embora.
o homenzito chega a ensaiar novo pedido,
tu inflexível agora —
não voltaste pois a jogar.
Contra os vidros se desfaz a cidade
em escombros a estátua da fonte em frente
ruínas de árvores despenhando-se à tua passagem.
reaprendo então o movimento da língua pedindo ar
as palavras do teu nome. pedra.
2.
Contra ti mil vezes morra
contra ti o tempo.
salgado seja meu ventre contra o teu
gelem os lábios ao mínimo tremor.
Do inferno venho
descabelada
subindo venho este caminho
ao teu encontro.
Foi esta a solidão acompanhada
o retrato de ana sorrindo eterno da cómoda
um pouco mais pálida talvez
sobre nossos corpos bruscos.
Que sabia então do amor ou sua ausência,
caminhando para ti de encontro à morte.
Por todos os lugares do espaço habitavas,
teu nome escrito à minha passagem.
crescia eu para ti sobre todas as coisas.
do medo da força
da mais funda esperança
procurava-te.
Contigo conheci o desamparo, a vil mentira.
Contigo vi falharem as formas da terra e do ar.
Secarem as águas na montanha.
Contra ti o vento degredado se ergueu.
contra ti
sete vezes
contra ti.
3.
Engolem-me hoje as palavras contra ti
amante no intervalo de almoço
soando meus tacões em retirada
ao toque de campainha combinado.
avançavas de rosto em riste até a porta
compunha a saia, surgiam os colegas sorridentes
entrando no escritório um a um.
os óculos escuros livravam-te de suspeitas
o fato atirado contra o corpo cobria o estilo
anti-herói americano, made in portugal.
em nada adiantando porém
a palete ao pôr-do-sol,
com música de fundo.
descias por cordas suspensas no precipício
bebendo às facadas o ar.
éramos o casal ventoso,
alguém diria a dada altura em noite de copos,
carícias entreabertas sob a mesa,
sob o olhar retrovisor enrolados no banco de trás.
Ferozes na palavra e no assalto
corríamos a noite velocíssimos.
4.
Do humor à rendição.
o corpo pedindo sono,
seguiam-se assim
dias e dias.
Perdido andaste,
meu amor partido.
paulo de pedra sobre os olhos.
Contra ti direi ainda as aves do céu
em fúria canora,
paulo da morte contra os ossos.
Em ti perdida
embora em movimento
contra mim caminho,
morto sejas
sete vezes
no meu coração
sanguíneo.
sobre teu rosto
cresçam enfim as ervas.
5.
Da tua sala viam-se sob o lençol do céu
os telhados vazios as pombas sobre o estendal,
frente ao sofá de veludo azul.
Terias posto o avental, uma bebida forte sobre a mesa
cheirava a ti o meu cabelo molhado contra a testa
estava calor. seguias devagar uma receita de lulas:
um pouco de tomate agora, cebolinha, fio de azeite,
panela ao lume.
lias linha a linha gracejando
eu debicava um cigarro,
estendiam-se as pombas
pássaros de asas (embora estúpidos)
em direcção aos olhos
estendiam-se as pombas
para o sol
cantava tua boca sobre a minha.
tudo aquilo em que soía acreditar.
6.
Seja esta história mero estandarte
Que muitas foram as vezes repetidas
Em que te vi sem que te achasse.
Trincava dia afora os versos de eugénio de andrade
tropeço como um cego no ar ao teu encontro.
era a deriva do coração.
a fuga para a fina seca espessura das palavras
vil cabedal de palavras ardendo
semeando paixão e tempestades.
sobre a mais funda aridez
adormecido meu amor a ti tornava
sob a mais leve demora
suspeita crescia em dúvida
uma semente
a própria palavra calava
o que não procurava dizer
e o corpo em frémito breve
percebia a súbita dor.
à morte sete vezes me lançava.
7.
Sentia teu corpo ao perto sempre,
assim nos encontrávamos perdidos,
sabendo só chegar ao nosso encontro
assim nos guia a ti a mim o espaço.
paulo de pedra,
senhor paulo pedra:
onde vai sua palavra
a quem a daria
a quem a dará
penhor grave este
perjúrio.
paulo pedra onde vai tua verdade.
engoles o medo
paulo à noite
quem és tu que
assim alba afora
me persegue,
homem?
o telefone cortando
as horas negras
sua estridência
rente ao sono
rumas à morte
assim por certo
sem pousar teu coração
em meu regaço
tuas mãos sobre meu seio
assim não
partas
dizia paulo,
paulo
dizia.
Mas de novo as gargantas
se soltariam rindo, vencida
a breve espaço a solidão
e a feroz exultação das drogas
nos transportasse embora
fraca, dúctil veio da razão
palavras armadas em conluio,
chamados o saber e o engano
as horas longas.
contra a poesia das palavras
me encostaste.
8.
Por ti trago de herança a dor
partidas as palavras doce engano.
paulo mordaça.
meu manto é o pranto,
seu fulgor.
a dor o meu sinete
agora me cobre o nojo
velada para sempre minha voz
pois a mentira se enrolou em meus cabelos
meu coração deixou a boca,
seu fragor.
emudecem as estrelas.
De longe caminho assim ao teu encontro
repostas as palavras
traves mestras de lugar
por outras mãos.
de onde vens contra a minha ardência?
pergunto de onde vens?
9.
À porta postado servindo
a recepção da festa.
A literatura:
empoado escritor com namorada de estimação
que no-lo queria à viva força apresentar.
de saída repeti herberto helder
matou por amor do amor e isso é do espírito demoníaco
lia sabia os passos em volta com fervor nos intervalos,
terias na mão a flor de madeira prenda tardia de anos.
10.
Contra a parede do king ao fundo,
sustentado pela cor e pelos livros
sorriso irónico macio como mão lenta
pelas costas das palavras,
assim falarias para dizer olá, vieste, cá estás.
Acabara de rever singing in the rain
entrei por isso a sapatear com graça
pelas paredes, rodopiante
sobre as estantes.
Dá-me o teu cigarro,
saber-te de leve contra os dedos,
sofisticado erotismo para início de estação.
era aquela a primeira primavera
de todas a mais viçosa e florida
saltavam as folhas do peito aberto em estranhos ramos.
Sorris contra o vidro da memória
nos perdidos e achados da memória,
trazias os cabelos revoltos em caracóis sob a lâmpada.
Fiquei pois ferida de ti
enamorada
só de te olhar acreditava
mais vasto e terno o mundo.
e de amor apenas me cobria.
11.
O cenário último seria então a sala,
as pratas enegrecidas pelos cantos
já sem luz o isqueiro de tanto chamear.
são teus olhos que brilham agora
a forma da anémona nas pupilas
Comíamos já as lulas quando atendes o telefone
rosto fechado. gesticulas contra a parede
e ela insiste ao que percebo. não venhas dizes
passa depois o silêncio de outro que fala.
não venhas. nem tarde, nem cedo,
não venhas nunca.
Descia as escadas aos tropeções
alumiada por súbita clareira
roda de fuga
vestida em corrida,
as lulas prá puta cas pariu.
merda.
Aberta a porta do prédio, a rua labirintina
escolho em segundo cortante a esquerda
para evitar suspeitas de seguidor
ao fundo segue-me a tua voz
volta onde estás onde vais vem
paulo pedra contra ti
construo a minha derrota.
E eis que tremo, temo. seguindo os subúrbios
pelo autocarro ao nascer da noite,
de novo retomo a espera em queda contra ti
contrária a meu mesmo desígnio
me encandeio.
12.
Sábado ao acordar de rara noite
a dois enrolados sem esforço
os corpos em sono leve
o estore filtrava o sol caindo a pino
listava teu corpo assim tão perto
o prazer de te ver acordar em segredo
pestanas pesadas, corpo dócil.
Na impotente tristeza que precede a separação
o duche era já prenúncio de degredo
abriam-se súbitas, novas delícias ao toque
brilhando os corpos sob a água.
Estava um dia glorioso
os pássaros seriam agora amplos
imensos lentos pela mão pesada do calor
e as laranjas moldavam-se à sede.
Sabendo breve o tempo de te querer
pedi para me levares ao mar.
leva-me paulo ao mar
leva-me ao mar.
13.
Parecia um script de mau cinema:
retornos rupturas regressos revoltas repetições
tanta estéril, ignara insistência.
Percebo agora que falhas
por cobardia e por cansaço.
Assim me deixaste dada por morta,
enfim na mesa do café,
seria Abril a
data para o final
de meus desvelos.
Longos anos crescem em mim
ainda, até que esgote o veneno
da tua presença
e sejas efígie vã.
14.
no dia azul avançava
a palavra marinha
pedindo água
em golpe trocado
era afinal a tarde
de ana legítima
aquela mulher.
Muito se disse deste duplo amor,
enganosas vis peias da sorte contra ele,
enleado
no antigo enredo de suas lúgubres tristezas
não pôde paulo matar o rei seu tio
nem livrar o coração de dupla escolha,
seu poderio, não
pôde a mão comandar
desejo, desenlace.
Sete vezes seu nome maldigo
do cimo deste monte
contra si voem os anjos terríveis do amanhecer
para jamais sobre esta terra repousar.
15.
Entrego o luto
nestas linhas.
declaro nada
mais ter
a dizer.
sele-se agora
minha boca
contra ti.
chegado será o tempo
do repouso e do perdão.
Fevereiro 2003
paulo pedra
1.
Assalta-me a dor
cobre-me o luto
de ti
enquanto sais
a água embotando a alta transparência vidrada da galeria.
recusa seguir-te o rosto descomposto,
dobrado pelo espanto.
na mesa os restos, mancha de chá em círculo,
a taluda que compraste (generoso) para raspar,
não tendo coincidido as figuras da sorte embora.
o homenzito chega a ensaiar novo pedido,
tu inflexível agora —
não voltaste pois a jogar.
Contra os vidros se desfaz a cidade
em escombros a estátua da fonte em frente
ruínas de árvores despenhando-se à tua passagem.
reaprendo então o movimento da língua pedindo ar
as palavras do teu nome. pedra.
2.
Contra ti mil vezes morra
contra ti o tempo.
salgado seja meu ventre contra o teu
gelem os lábios ao mínimo tremor.
Do inferno venho
descabelada
subindo venho este caminho
ao teu encontro.
Foi esta a solidão acompanhada
o retrato de ana sorrindo eterno da cómoda
um pouco mais pálida talvez
sobre nossos corpos bruscos.
Que sabia então do amor ou sua ausência,
caminhando para ti de encontro à morte.
Por todos os lugares do espaço habitavas,
teu nome escrito à minha passagem.
crescia eu para ti sobre todas as coisas.
do medo da força
da mais funda esperança
procurava-te.
Contigo conheci o desamparo, a vil mentira.
Contigo vi falharem as formas da terra e do ar.
Secarem as águas na montanha.
Contra ti o vento degredado se ergueu.
contra ti
sete vezes
contra ti.
3.
Engolem-me hoje as palavras contra ti
amante no intervalo de almoço
soando meus tacões em retirada
ao toque de campainha combinado.
avançavas de rosto em riste até a porta
compunha a saia, surgiam os colegas sorridentes
entrando no escritório um a um.
os óculos escuros livravam-te de suspeitas
o fato atirado contra o corpo cobria o estilo
anti-herói americano, made in portugal.
em nada adiantando porém
a palete ao pôr-do-sol,
com música de fundo.
descias por cordas suspensas no precipício
bebendo às facadas o ar.
éramos o casal ventoso,
alguém diria a dada altura em noite de copos,
carícias entreabertas sob a mesa,
sob o olhar retrovisor enrolados no banco de trás.
Ferozes na palavra e no assalto
corríamos a noite velocíssimos.
4.
Do humor à rendição.
o corpo pedindo sono,
seguiam-se assim
dias e dias.
Perdido andaste,
meu amor partido.
paulo de pedra sobre os olhos.
Contra ti direi ainda as aves do céu
em fúria canora,
paulo da morte contra os ossos.
Em ti perdida
embora em movimento
contra mim caminho,
morto sejas
sete vezes
no meu coração
sanguíneo.
sobre teu rosto
cresçam enfim as ervas.
5.
Da tua sala viam-se sob o lençol do céu
os telhados vazios as pombas sobre o estendal,
frente ao sofá de veludo azul.
Terias posto o avental, uma bebida forte sobre a mesa
cheirava a ti o meu cabelo molhado contra a testa
estava calor. seguias devagar uma receita de lulas:
um pouco de tomate agora, cebolinha, fio de azeite,
panela ao lume.
lias linha a linha gracejando
eu debicava um cigarro,
estendiam-se as pombas
pássaros de asas (embora estúpidos)
em direcção aos olhos
estendiam-se as pombas
para o sol
cantava tua boca sobre a minha.
tudo aquilo em que soía acreditar.
6.
Seja esta história mero estandarte
Que muitas foram as vezes repetidas
Em que te vi sem que te achasse.
Trincava dia afora os versos de eugénio de andrade
tropeço como um cego no ar ao teu encontro.
era a deriva do coração.
a fuga para a fina seca espessura das palavras
vil cabedal de palavras ardendo
semeando paixão e tempestades.
sobre a mais funda aridez
adormecido meu amor a ti tornava
sob a mais leve demora
suspeita crescia em dúvida
uma semente
a própria palavra calava
o que não procurava dizer
e o corpo em frémito breve
percebia a súbita dor.
à morte sete vezes me lançava.
7.
Sentia teu corpo ao perto sempre,
assim nos encontrávamos perdidos,
sabendo só chegar ao nosso encontro
assim nos guia a ti a mim o espaço.
paulo de pedra,
senhor paulo pedra:
onde vai sua palavra
a quem a daria
a quem a dará
penhor grave este
perjúrio.
paulo pedra onde vai tua verdade.
engoles o medo
paulo à noite
quem és tu que
assim alba afora
me persegue,
homem?
o telefone cortando
as horas negras
sua estridência
rente ao sono
rumas à morte
assim por certo
sem pousar teu coração
em meu regaço
tuas mãos sobre meu seio
assim não
partas
dizia paulo,
paulo
dizia.
Mas de novo as gargantas
se soltariam rindo, vencida
a breve espaço a solidão
e a feroz exultação das drogas
nos transportasse embora
fraca, dúctil veio da razão
palavras armadas em conluio,
chamados o saber e o engano
as horas longas.
contra a poesia das palavras
me encostaste.
8.
Por ti trago de herança a dor
partidas as palavras doce engano.
paulo mordaça.
meu manto é o pranto,
seu fulgor.
a dor o meu sinete
agora me cobre o nojo
velada para sempre minha voz
pois a mentira se enrolou em meus cabelos
meu coração deixou a boca,
seu fragor.
emudecem as estrelas.
De longe caminho assim ao teu encontro
repostas as palavras
traves mestras de lugar
por outras mãos.
de onde vens contra a minha ardência?
pergunto de onde vens?
9.
À porta postado servindo
a recepção da festa.
A literatura:
empoado escritor com namorada de estimação
que no-lo queria à viva força apresentar.
de saída repeti herberto helder
matou por amor do amor e isso é do espírito demoníaco
lia sabia os passos em volta com fervor nos intervalos,
terias na mão a flor de madeira prenda tardia de anos.
10.
Contra a parede do king ao fundo,
sustentado pela cor e pelos livros
sorriso irónico macio como mão lenta
pelas costas das palavras,
assim falarias para dizer olá, vieste, cá estás.
Acabara de rever singing in the rain
entrei por isso a sapatear com graça
pelas paredes, rodopiante
sobre as estantes.
Dá-me o teu cigarro,
saber-te de leve contra os dedos,
sofisticado erotismo para início de estação.
era aquela a primeira primavera
de todas a mais viçosa e florida
saltavam as folhas do peito aberto em estranhos ramos.
Sorris contra o vidro da memória
nos perdidos e achados da memória,
trazias os cabelos revoltos em caracóis sob a lâmpada.
Fiquei pois ferida de ti
enamorada
só de te olhar acreditava
mais vasto e terno o mundo.
e de amor apenas me cobria.
11.
O cenário último seria então a sala,
as pratas enegrecidas pelos cantos
já sem luz o isqueiro de tanto chamear.
são teus olhos que brilham agora
a forma da anémona nas pupilas
Comíamos já as lulas quando atendes o telefone
rosto fechado. gesticulas contra a parede
e ela insiste ao que percebo. não venhas dizes
passa depois o silêncio de outro que fala.
não venhas. nem tarde, nem cedo,
não venhas nunca.
Descia as escadas aos tropeções
alumiada por súbita clareira
roda de fuga
vestida em corrida,
as lulas prá puta cas pariu.
merda.
Aberta a porta do prédio, a rua labirintina
escolho em segundo cortante a esquerda
para evitar suspeitas de seguidor
ao fundo segue-me a tua voz
volta onde estás onde vais vem
paulo pedra contra ti
construo a minha derrota.
E eis que tremo, temo. seguindo os subúrbios
pelo autocarro ao nascer da noite,
de novo retomo a espera em queda contra ti
contrária a meu mesmo desígnio
me encandeio.
12.
Sábado ao acordar de rara noite
a dois enrolados sem esforço
os corpos em sono leve
o estore filtrava o sol caindo a pino
listava teu corpo assim tão perto
o prazer de te ver acordar em segredo
pestanas pesadas, corpo dócil.
Na impotente tristeza que precede a separação
o duche era já prenúncio de degredo
abriam-se súbitas, novas delícias ao toque
brilhando os corpos sob a água.
Estava um dia glorioso
os pássaros seriam agora amplos
imensos lentos pela mão pesada do calor
e as laranjas moldavam-se à sede.
Sabendo breve o tempo de te querer
pedi para me levares ao mar.
leva-me paulo ao mar
leva-me ao mar.
13.
Parecia um script de mau cinema:
retornos rupturas regressos revoltas repetições
tanta estéril, ignara insistência.
Percebo agora que falhas
por cobardia e por cansaço.
Assim me deixaste dada por morta,
enfim na mesa do café,
seria Abril a
data para o final
de meus desvelos.
Longos anos crescem em mim
ainda, até que esgote o veneno
da tua presença
e sejas efígie vã.
14.
no dia azul avançava
a palavra marinha
pedindo água
em golpe trocado
era afinal a tarde
de ana legítima
aquela mulher.
Muito se disse deste duplo amor,
enganosas vis peias da sorte contra ele,
enleado
no antigo enredo de suas lúgubres tristezas
não pôde paulo matar o rei seu tio
nem livrar o coração de dupla escolha,
seu poderio, não
pôde a mão comandar
desejo, desenlace.
Sete vezes seu nome maldigo
do cimo deste monte
contra si voem os anjos terríveis do amanhecer
para jamais sobre esta terra repousar.
15.
Entrego o luto
nestas linhas.
declaro nada
mais ter
a dizer.
sele-se agora
minha boca
contra ti.
chegado será o tempo
do repouso e do perdão.
Fevereiro 2003
Mar 15, 2008
Mar 13, 2008
algas
Algas
(1995-2004)
Quero contar as férias de Verão na colónia balnear
as tardes sentada sob o arco de pedra
soltando sombra a rezar o terço
Fervorosa devoção
que me deixou fechada na nave lateral da igreja no colégio
frente ao altar de um Santo adivinhando
por entre o escuro das lágrimas a porta
atrás do reposteiro de veludo
guiada talvez pelo Senhor, subi
a galeria atravessei o terraço sobre o claustro principal
arrombei a porta do corredor das aulas, era de noite
desci as escadas e fui apanhada pela D. Hilda
(Senhora Dona, de direito)
No fim-de-semana organizavam-se com os pais de visita
piqueniques no raro bosque de pinheiros frente à via-rápida:
forte de Sto. António de graves lembranças históricas
ímpetos guerreiros da morte do professor Oliveira Salazar
recordada com pesar pelas Mulheres modestas
rematando pequenas ilustrações com morais edificantes:
uma Senhora conhece-se pela maneira como se senta
as túnicas quadriculadas puxadas com nervos
até aos joelhos cerrados, postura das regras
perna descruzada
Em temeroso respeito à Senhora Directora
excelentíssima nos pedidos de saída
sob ameaça de ficar Rogo
a vossa excelência se digne
conceder autorização à aluna número
e os dias da semana contados ao contrário
menos hoje, menos amanhã, menos depois
haverá outras bocas lá fora para
A pedra crescendo nos muros
a torre onde vagueia Madre Paula
freira amancebada com rei barroco
não o poeta de pinhais e barbas ruivas
que D. Hilda criada de menina no colégio
reconheceu de relance, quando o túmulo da igreja
se viu aberto nas Invasões Francesas
foi o mosteiro fundado por
este mesmo rei que aqui jaz,
de acordo com promessa feita à Virgem
em suas coutadas de caça no Alentejo
vendo-se perseguido por besta ferocíssima
de grande porte e piores intenções
era um urso e D. Hilda diminui
nariz adunco curvado para o xaile
fazendo lenda
sem querer morrer nunca
de novo espantada pela má-criação das
mais jovens gerações que se perseguem
dizia-se que
caminhava à noite pela linha
de mosaicos claros nos longos corredores
com vela tremeluzindo nos cabelos brancos
soltos enfim do toutiço armado
Ou as veredas da quinta
por onde fugíamos
coladas às plantas
iludindo a vigilância até ao muro
junto ao rio que ladeávamos
em planos de fuga sonhando os montes
já invadidos por grupos de prédios desolados
Sob as colunas góticas do claustro principal
nas tardes baças de Outono
na fragrância das campânulas amarelas
que pendiam em cachos dos arbustos
comendo uma romã acocorada
junto aos vasos acres das sardinheiras
procurando adivinhar
num arrepio de perigo alheio
restos de cinza, beatas
das alunas negativas
a comportamento
acreditávamos o mundo tão fácil,
abençoadas pela espantosa clareza
da ciência e da religião
No Inverno subia as escadas
até à Enfermaria e esperava a vez
tremendo ao contacto das cadeiras de metal
contra as pernas nuas, enrolava-me
sob os cobertores ásperos
estava cansada
nas camas reclináveis de colchões duros,
inquietavam-se as médicas cercando-me
problemas em casa, amores perdidos?
receitavam-me valeriana estava cansada
Na primeira noite as camas rangiam
pela camarata imensa sussurros
medo do escuro aos dez anos
alguém chorando sob os cobertores
a monitora de serviço
Gertrudes de nome
que entretanto casou e ficou melhor apesar de
acendeu com brusquidão as luzes,
encadeando a Virgem que dormitava na prateleira
ouvidas há pouco as preces,
e declarou com verve não suportar
tamanha indisciplina, irreverência
(adjectivo que guardei para designar incurável rebeldia)
a primeira a fazer barulho ia imediatamente para casa
havia tantas meninas que gostariam de ali estar
nos nossos lugares
honroso título
Odivelas
cega ao absurdo da ameaça, invadia-me o terror de tão vil regresso ao lar
enxovalhada na farda castanha feita à medida
a mala com o enxoval encomendado
os pais envergonhados ao canto da imagem
que tantos sacrifícios por nós faziam
Era para nosso bem
Aos quinze anos, ainda sem namorado
tive um sonho erótico:
músculos adolescentes nus no chuveiro
esqueci pormenores, foi talvez na Primavera
quando a álea das mimosas tornava excessivo o ar,
contei-o às outras na reentrância da janela
entre risos olhando a quinta ao regressar
do refeitório havia chá e torradas com mel pássaros
depois o lanche passou a ser de pé:
sumo com carcaças amontoadas em cestos
cobertos por largos panos de algodão
saindo a manteiga em excesso para os dedos
que ficavam impressos nas páginas
dos livros proibidos
As paredes brancas o labirinto de
escadas os interditos os
olhos para guardar
cada gesto as
cartas abertas os
portões fechados os
sons chamando de fora,
camionetas
Colégio fundado em 1900 para que
as filhas dos oficiais ausentes em serviço no Ultramar
ou órfãs
(discriminadas como nos bons romances de Dickens)
fossem educadas no amor à Pátria e no temor a Deus,
anuncia o painel de azulejos na Portaria
Domingos de regresso
Falava, então,
de uma tarde enevoada
em que fomos à praia,
o marido da professora
de ginástica,
único homem na colónia,
fora visitas esparsas do capelão de batina,
grande e peludo
contra o ímpeto das ondas,
ensinava-nos a nadar,
a maré trouxera
algas
viscosas
que
se enrolavam
ao corpo.
Mar 12, 2008
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Mar 5, 2008
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