Feb 21, 2008

Alberto Caeiro

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe o paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...

"O Guardador de Rebanhos", XXI


foi um dos primeiros livros de poesia que comprei e este poema tem-se repetido dentro de mim nos últimos dias. partilho

2 comments:

dama said...

hoje ensinei-o!

diana said...

muito bem, dá para saltar até à filosofia budista e tudo...

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